Olá, gente...
Recentemente,
recebi a contribuição de um artigo escrito por Ilona Becskeházy no site www.gestaoeducacional.com.br, o
qual faço questão de compartilhar com vocês.
Por se tratar de um
artigo que abrange questões relacionadas com a competência docente, penso que sua
leitura será provocadora para reflexões interessantes a respeito do tema.
Diz então, Ilona:
“Para discutir a formação de
docentes, é necessário combinar de antemão uma definição do que seja uma sala
de aula competente. No imaginário brasileiro, a sala de aula competente é um
lugar onde os alunos se reúnem regularmente para, sob a coordenação de
professores, engajarem-se em atividades como copiar do quadro, ouvir
passivamente uma preleção e treinar algoritmos para resolver problemas.
Geralmente, os objetivos pedagógicos não são claramente compreendidos pelos
alunos (às vezes nem pelos professores), o tempo é apenas parte do cenário (e
não um componente do planejamento) e as atividades são propostas mesmo que não
estejam diretamente relacionadas aos objetivos pedagógicos que deveriam estar
conquistando. Até porque não existe um currículo detalhado e obrigatório a ser
perseguido.
Por causa dessa percepção, é mais
frequente que a sala de aula se pareça com uma missa, um comício, uma balada,
uma sala de espera (ou de tortura), ou seja, lá o lugar onde costumamos estar
apenas de corpo presente do que com um local de trabalho mental conjunto e
supervisionado, onde os alunos recebem desafios pedagógicos relacionados a
objetivos muito claros, que os fazem usar a cabeça na maior parte do tempo e
cujo processo de aquisição das habilidades e dos conteúdos é permanentemente
monitorado. Chamemos esse tipo de sala de aula de “sala de trabalho”.
Uma vez claro que o papel dos
professores é fazer com que os alunos exercitem seus cérebros para aprender,
seguindo uma progressão de complexidade, como a proposta pela Taxonomia de
Bloom, um segundo grupo de padrões comportamentais deve ser claramente
compreendido por quem sonha em ser professor e, obviamente, por quem será
responsável pela formação profissional deles. Assiduidade, pontualidade,
cordialidade e apresentação pessoal são corriqueiramente negligenciados e
ridicularizados por quem se pretende moderno, mas, sem que todos os membros de
uma comunidade escolar se sujeitem a eles, não é possível institucionalizar a educação,
uma escolha histórica das sociedades da era moderna.
Assiduidade é mais do que aparecer na
escola todos os dias, é um compromisso moral com seus objetivos, seus pares e
sua clientela. Pontualidade não é estar na porta da sala esbaforido em cima da
hora, mas começar uma aula planejada no momento combinado e terminar idem.
Cordialidade é tratar todos com a mesma atenção e com demonstrações explícitas
de respeito, como olhar nos olhos, manter o tom de voz e o vocabulário afáveis,
não se deixar levar por provocações dos alunos, não tomar como pessoal o que é
um embate de gerações ou de grupos sociais diferentes, monitorar as
dificuldades dos alunos e tratá-las de forma eficaz e acolhedora, mesmo que
eles sejam “difíceis” ou “diferentes”. E apresentação pessoal não é apenas
higiene, mas um conjunto de aparências e atitudes que transmite a mensagem de
respeito próprio e à nobre tarefa de educar, com a neutralidade de um
profissional que está na escola para servir a todos indiscriminadamente e que,
portanto, não deve tornar óbvias questões de foro íntimo, como as esportivas,
religiosas ou sexuais.
Ainda sem sair do básico
negligenciado, lembro que o domínio da norma culta da língua portuguesa, no
escrever e no falar, é característica inerente e essencial de docentes, que
devem dar o exemplo e cobrar o mesmo de seus alunos. A conjugação errada do
presente do subjuntivo, a flexão errada do verbo para o pronome em segunda
pessoa e “comer” os “ss” no fim dos plurais não são regionalismos, mas sim
erros de português e devem ser banidos do ambiente escolar. Isso não é
“violência simbólica”, é um processo educativo responsável e equitativo.
Saindo do óbvio, valho-me de Schulman (Lee S. Shulman, Foundations of a
New Reform. Harvard Educational Review, nº 57, vol.1, February, 1987) para listar o conjunto dos conhecimentos
que os professores devem dominar para ter sucesso em seu ofício e sua missão:
conhecimento do conteúdo; do manejo pedagógico da sala de aula; dos objetivos
pedagógicos e de uma variedade de ferramentas, atividades e estratégias para
alcançá-los; conhecimento pedagógico de como se aprende/ensina; do perfil de
cada aluno; do contexto institucional (mantenedores, comunidade etc.) e dos
fundamentos teóricos de sua área (filosofia, sociologia, psicologia). A ordem
dos fatores importa e possivelmente a questão está, em parte, em termos
invertido a importância de fundamentos teóricos em relação ao conhecimento do
conteúdo, das formas de ensinar e do manejo de sala. Além de termos relaxado em
relação às questões óbvias que valem para todos os profissionais que atuam em
ambiente institucional.
O que Shulman propõe leva uma vida
para se alcançar, mas pode ser usado como base para uma nova estrutura de
formação inicial e continuada de docentes, bem como para a avaliação e a
progressão funcional deles. Talvez seja essa a singela revolução educacional
que buscamos.” ( Ilona Becskeházy)
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Postado por Michel Assali
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